A utilização dos espaços no Colégio, com suas especificidades, e uma área bastante exígua para o escopo a projetar (definida pelo Plano Diretor da escola) foram os fatores primordiais a serem trabalhados. O cuidado presente nesta escola alinhada à Antroposofia foi também transposto para este projeto.
O desafio constituiu-se em, dentro das limitações estipuladas no Plano Diretor e com a preservação das áreas existentes (Caramanchão, Palco, rede de águas pluviais, etc), bem como de boa parte das árvores locais, atender aos espaços solicitados e às necessidades de confinamento de áreas (Colegial e pequenos do Grau separados, Anfiteatro entre Colegial e Cantina e o trânsito entre esses espaços).
Estando o espaço do Anfiteatro já definido e com palco construído, tratamos de estudar o melhor aproveitamento possível, levando em consideração a informação de que o projeto será construído em etapas.
Desta forma, projetamos uma arquibancada fixa, para 300 lugares e corredor centralizado em relação ao palco, com assentos e encostos corridos, em tábuas de madeira (fixos em pequenos perfis metálicos) com piso em tijolos maciços assentados com junta seca sobre berço de areia, o que possibilita a absorção da água de chuva enquanto a área não for coberta. Pontos de iluminação, dispostos estrategicamente junto ao piso, sinalizam os desníveis existentes entre as fileiras, evitando possíveis acidentes.
Considerando-se o espaço ocupado por uma pessoa em 60cm, bastante confortável, contabilizamos 140 lugares extras, que serão dispostos lateralmente, 77 na área onde hoje é a horta e 63 na região próxima ao acesso à Creche.
O material adotado para os bancos foi escolhido levando-se em conta a durabilidade, fácil e baixa manutenção (sem necessidade de mão de obra especializada), conforto, disponibilidade fácil e rápida montagem, já que foram especificadas tábuas macho/fêmea (de assoalho) para os assentos, e tábuas de deck para os encostos.
Os lugares extras, que ficarão descobertos, não precisam inicialmente ter bancos corridos, podendo ser utilizadas nos platôs temporariamente as atuais cadeiras plásticas.
Para a cobertura, projetamos treliças metálicas em arco, uma solução estrutural bastante econômica e de rápida execução. Pilares metálicos com perfil redondo fazem a sustentação dessas treliças que recebem a cobertura na sua linha inferior.
A cobertura será um telhado verde, executado com a associação de telha ecológica Onduline e EcoTelhado (placas em cimento e EVA com substrato vegetal e vegetação que não necessita manutenção). A associação destes materiais favorece o conforto térmico e acústico do Anfiteatro, poupando a instalação de forro de madeira (ou outro material acústico) sempre dispendiosa e obrigatória quando se opta por telhas metálicas (mesmo do tipo sanduíche). A cobertura será disposta em duas águas: um pequeno trecho deságua sobre o telhado do palco e um longo pano cai em direção ao Caramanchão. Calhas intermediárias captam a água de chuva junto a cada treliça, despejando seu conteúdo em calhas/condutores que levarão a água captada a uma cisterna subterrânea, para posterior aproveitamento em regas ou limpeza da área externa. A cobertura apoiada na linha inferior das treliças permitirá que o interior do Anfiteatro tenha uma superfície de telhado bastante uniforme. Desta forma, as treliças em arco ficam expostas sobre o teto verde, visíveis pelo lado de fora, e poderão ser pintadas cada uma com uma cor do arco-íris, já que são em número de sete.
Em acordo com nosso consultor em acústica, optamos por uma plataforma elevada, também em estrutura metálica, para acomodar os músicos. Esta plataforma ficará junto ao prédio do Colegial, com total visualização do palco e da platéia, e receberá uma cobertura com desenho semelhante à atual cobertura do Palco, favorecendo a acústica do local. A circulação por aquela região continuará disponível, sendo feita por baixo da plataforma elevada.
A cabine para controle de som e luz foi recuada para o limite da cobertura e posicionada ao lado do corredor central, e terá pé-direito maior que o atual além de amplas aberturas frontal e laterais, viabilizando a integração não só física, mas também sonora e visual, do operador com todo o ambiente. O fechamento destas aberturas poderá reaproveitar o painel de madeira existente na atual cabine, se for o caso, sendo apenas complementado com janelas laterais.
Por determinação do Plano Diretor, a Cantina foi disposta ocupando parte da área lateral do Anfiteatro e parte do Pátio. Para atender o programa solicitado, que pede sala para Professores, sanitários, depósitos, cantina e refeitório para 40 pessoas (podendo crescer para 60 pessoas), optamos por uma construção em dois pavimentos. No pavimento térreo, aumentamos o recuo lateral junto ao muro de divisa para que as fundações da edificação ficassem afastadas da grande tubulação de águas pluviais existente.
A Sala dos Professores, local com menor produção de ruído (e, portanto, mais adequado à proximidade com o Anfiteatro) terá janelas no alto da parede virada para a circulação do Anfiteatro e janelas longas e estreitas na parede do fundo, apenas para integrar o espaço à Natureza (já que é uma área pouco ensolarada). O formato irregular da sala favorece o layout de mobiliário e possibilita a existência de dois depósitos para o Anfiteatro, que também colaboram com o isolamento acústico entre a sala e o Anfiteatro.
Sanitários masculino e feminino posicionam-se em local de fácil acesso, com circulação protegida por uma parede vazada feita com tijolos maciços alternados, permitindo a circulação do ar. Logo ao lado, escada de acesso ao pavimento superior e pequeno pátio coberto.
O pavimento térreo é distribuído em 3 níveis (pátio+escada, sanitários, sala de Professores) acompanhando o perfil natural do terreno e permitindo que a sala dos Professores tenha um pé-direito um pouco mais alto do que o usual, o que possibilita a criação de um pequeno mezanino, se houver futura necessidade.
No pavimento superior, concentramos o setor de alimentação, com Cantina, Refeitório para 40 pessoas, cozinha, despensa, sanitário para funcionários e terraço, onde podem se acomodar confortavelmente mais 32 pessoas. O terraço também possibilita que se assista às Festas (da Lanterna, da Primavera, Junina, etc.), permitindo um novo e amplo ângulo de visão.
No canto oposto do pavimento superior, virado para o Palco, uma floreira na borda foi adotada para suavizar o visual.
Os acabamentos de fachada serão tijolo aparente (em pequenas áreas) e pintura sobre massa grossa, feita com tinta à base de terra.
Na cobertura, em laje com telhado Onduline (poupando a impermeabilização), sobressai um pequeno volume onde temos o reservatório de água que abastecerá todo o prédio.
Formas curvas no terraço e na cobertura geram um movimento agradável e harmonioso com a Natureza, especialmente no trecho virado para o Pátio.
Foi dada especial atenção à questão da circulação e confinamento das áreas de acesso do Colegial e do Grau. O provável caminho do Colegial à Cantina seria através do Anfiteatro. Caso esse tráfego seja inviável (durante ensaios, por exemplo), teremos disponível uma circulação de acesso que percorre o caminho do Pátio do Colegial à Cantina, dirigindo os alunos do Colegial por um passeio no espaço entre o Caramanchão e o Anfiteatro. O acesso à Cantina, através da escada no Pátio Coberto, pode ser fechado com discreto portão, impedindo a passagem das crianças pequenas.
Todo esse projeto, feito em parceria como arquiteto Edson Bassi, contempla soluções economicamente viáveis no setor de sustentabilidade: reuso de água de chuva, solo permeável (sempre que possível), manutenção do máximo possível de árvores e vegetação em geral, Teto Verde, telhas ecologicamente corretas, tintas de terra, tudo isso sempre acrescido de soluções que gerem conforto ao usuário, economia à entidade e colaborem na educação dos alunos.