A tônica deste projeto foi o encontro com o sagrado. O sagrado no respeito à terra, a relação com os 4 elementos da natureza (terra, ar, fogo, água) e a harmonia das relações entre todos os envolvidos.

A necessidade do Salão já existia, mas surgiu, incontestável e urgente, quando uma grande reunião para mais de 200 pessoas foi marcada para acontecer nessa O.N.G. Um encontro internacional, com pessoas das mais diversas etnias de todo o mundo.

Inúmeros corações, mentes e mãos colaboraram para que esse projeto surgisse como surgiu. Meu trabalho foi mais intenso que o habitual, ouvindo a cada um com suas sugestões e interferências, e sabendo conduzir e traduzir como rica contribuição ao projeto. Foi um exercício de flexibilidade... Da mesma forma, assim a construção se concretizou, em um prazo que não parecia ser possível (a obra foi executada em 6 meses), com os reduzidos recursos financeiros que a O.N.G., sem fins lucrativos, possuía no momento. Foi escolhido um local no alto de um morro, com uma vista deslumbrante de toda a região.

Todas as soluções foram buscadas para que as principais diretrizes básicas (formato dodecagonal, local para fogo ao centro, portas orientadas às 4 direções principais - Norte, Sul, Leste e Oeste) pudessem ser atendidas, sem ônus para a programação financeira.  Optamos por não fazer movimentação de terra e, assim, partimos de uma grande laje de concreto, onde a construção se apoia. O salão com 12 lados tem as 4 portas necessárias e 8 janelas para permitir iluminação natural adequada durante o dia (sendo 4 delas fixas e 4 que abrem para uma circulação cruzada de ar), e foi implantado no centro da laje, ficando em seu entorno uma varanda que ajuda a proteger as paredes da chuva. A estrutura principal é em madeira sustentável (eucalipto serrado, disponível na região). As alvenarias foram executadas em bloco de concreto ciclópico (tipo Siporex), o que economizou tempo de assentamento, já que suas dimensões são maiores do que os blocos habitualmente utilizados. O telhado foi projetado em 4 águas, em telhas cerâmicas, e se apoia sobre a estrutura de madeira. Pela agilidade e baixo custo, adotamos forro de placas de OSB para evitar a entrada de insetos e pequenos animais. No ponto mais alto desta cobertura piramidal, fizemos um lanternim (suspendendo aquele trecho da cobertura) para possibilitar a saída da fumaça proveniente do fogo abaixo, sendo parte de sua abertura fechada com vidro (para proteger da chuva) e parte telada, evitando a entrada de insetos. O piso, todo em madeira, recebeu um desenho em forma de cruz andina (“chakana”) em porcelanato polido negro e, no seu centro, um rebaixo em meia-esfera, executado em tijolos refratários e emoldurado pelo mesmo porcelanato, em negro e branco, onde pode ser aceso o fogo. Esse rebaixo, se necessário, pode ser fechado com painéis que seguem as cores de sua moldura.

As paredes das principais direções, onde estão as portas, receberam pinturas artísticas que nos trazem os elementos que simbolizam as energias que regem o Universo. Para executar esse trabalho, convidamos o inspirado e polivalente artista plástico Mavutsinim Santana que, de forma inusitada, criou as 4 lindas pinturas se abrindo a um trabalho em mutirão junto com pessoas que “não sabiam pintar”. Com sua alegria e doçura, fez com que todos que quisessem (inclusive as crianças maiores) participassem dessa criação. O resultado ficou muito bonito e foi muito valorizado por todos.

Foi um processo extremamente rico e gratificante, para todos os envolvidos. Minha gratidão a todos dessa O.N.G. que colaboraram para que esse projeto se concretizasse neste lindo sítio – não esquecendo do responsável pela equipe de construção, Daniel, que em todos os momentos se empenhou e colocou sua competência para tornar esse sonho conjunto uma realidade!